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Out 15
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Out 15

Cerceados

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Se o pensamento

Trava a verdade

Será mentira

A liberdade

Será verdade

Outra mentira

Surgiu mais tarde

O mundo não gira.

publicado por poetazarolho às 21:15 | comentar | ver comentários (2) | favorito
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Out 15
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Out 15

Um oásis no deserto

Imagem oásis.jpg

O responsável pelo turismo, não sei mesmo se o prefeito de Hermosillo, pois a memória já vai afastada, dera-nos várias sugestões para um fim de-semana inesquecível, também um mapa onde assinalámos alguns locais e rabiscámos algumas notas, cumprida a primeira etapa do planeamento numa quinta-feira longínqua o que sobrava em ansiedade pelo momento da partida fazia com que o pouco que faltava para o alcançar parecesse um tempo imenso. Mas então o Sábado chegou.

 

Seguíamos na estrada principal regressados de Puerto Peñasco no norte do estado de Sonora, lá onde a terra e a lua se juntam, após uma reconfortante paragem num quiosque de madeira e colmo, para beber a retemperadora e refrescante água de coco, quando o oásis no deserto se fez anunciar por meio de uma tosca placa de madeira espetada na berma da estrada, “Cañon de Guadalupe 55 Km - Un Oásis en el Deserto”, convite irrecusável por um trilho aberto pelas sucessivas passagens de outros veículos na superfície da lagoa salgada de Sonora.

 

O calor desse Agosto parecia duplicar de intensidade ao entrar na lagoa seca onde incidiam os raios solares reflectindo uma luz intensa, pelo que era difícil conduzir com velocidade, assim com o passo relativamente reduzido que as condições impunham lá prosseguimos a viagem num emaranhado de trilhos sulcados por quem antes aí passara, indicações no local nenhumas, apenas as indicações verbais que nos haviam sido transmitidas por outros hermanos junto à estrada principal. Um pouco mais à frente vimos um vulto por terra e com a sensação de já termos avançado em demasia resolvemos parar, tristeza que o vulto nunca nos poderia ajudar, pois para além de ser já carcaça, pertencia provavelmente a um burro ou mula que jazia nesse local.

 

Resolvemos esperar um pouco, até porque as dunas à nossa frente nos pareciam intransponíveis para o veículo de utilizávamos, nisto enquanto conversávamos começámos a ouvir um som estridente, que parecia ser dum motor desafinado que ecoava para lá das dunas, foi aumentando de intensidade e passados alguns segundos eis que surge saltando do nada, em nossa direcção um velho camião parecendo sair de um filme anos cinquenta.

 

Fizemos sinal com os braços que este nosso hermano entendeu, e sempre com a simpatia própria de todos os mexicanos daquelas paragens, respondeu à nossa pergunta com um “No no van mas alla que no passa esse coche, el cruce para el cañon de Guadalupe es unos dos kilometros más alla”, fazendo um gesto com o braço indicativo da direcção a seguir, agradecemos a preciosa informação, invertemos a marcha e seguimos de acordo com as novas indicações em boa altura recebidas, qual dádiva divina que nos agraciara na hora certa.

 

Cerca de uns minutos depois lá vimos o cruzamento indicado com uma pequena placa em madeira pintada que nos tinha passado despercebida na passagem anterior, devido ao desconhecimento do terreno e à sua colocação, deu para perceber enfim mas só com a preciosa ajuda do improvável camionista que nos saíra ao caminho, pois deve passar por ali um de cinco em cinco dias, sorte a nossa pensámos em coro.

 

Daí até ao oásis fora um instantinho, pensámos novamente em coro, mas desta feita já com o estômago pois a fome, com todos estes percalços, já apertava de tal maneira que o cérebro era colocado num plano secundário. Aí chegados fomos recebidos com o espanto e admiração de que recebe visitas de longe em longe, tal não é a dificuldade da travessia desta tramada lagoa brilhante, quase a parecer um espelho. Só pensávamos comer e foi esse o tema de conversa após os rápidos cumprimentos que a situação impunha. Todo o pouco que havia e que nos fora proposto, enquanto degustávamos, nos parecia a melhor refeição desde há muito tempo a esta parte.

 

Acalmados que estavam os estômagos apercebemo-nos novamente de que algo funcionava no interior das nossas caixas cranianas, então aí sim quisemos saber o que haveria para disfrutar naquele local tão fora do comum, rodeado por deserto, aquele sim um verdadeiro oásis para a vista, muita sombra de palmeiras, outra vegetação que compunha o espaço circundante e em que eram visíveis alguns fios de água provindos de uma zona rochosa um pouco mais distante. Foi-nos dito que esse era, para além da paisagem, um dos principais atractivos do local, uma pequena queda de água que formava uma piscina natural no meio das rochas deste deserto.

 

Saciados que estávamos e sendo a temperatura um pouco mais que amena não recusámos o convite que a dita piscina nos dirigia, aproximámo-nos do local, onde creio já estaria outro casal de visitante deste remoto local, os únicos para além de nós. Esperámos o tempo aconselhável após a refeição até mergulharmos naquela oferta da natureza, mas daí em diante a algazarra foi tanta que o dito casal desapareceu rapidamente sem que nos tenhamos sequer apercebido do facto. Daí a pouco, talvez por maldição do casal involuntariamente escorraçado, recebemos a visita duma serpenteante cobra de água que provocou algum aparato no seio do grupo, mas logo veio a informação de um dos habitantes do local que não nos preocupássemos pois seriam inofensivas e logo os espíritos serenaram e puderam continuar a dar a expressão devida à algazarra vigente, seria impossível alguém descansar durante aquele período no oásis.

 

No final do retemperador banho de água cristalina e após recompostos de estômago e espírito num local tão paradisíaco nada mais restava do que despedirmo-nos da família nativa, por tão generosa hospitalidade pedindo desculpa por algum ruído acima do máximo permitido por lei naquele confim de lugar nenhum e pormo-nos novamente a caminho, no que outrora fora lagoa e era agora uma pista por muitos anos, na memória dos que porventura se arriscavam a sulcar os trilhos que generosamente oferecia.

publicado por poetazarolho às 20:43 | comentar | ver comentários (4) | favorito
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Out 15
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Viagem ao olho do vulcão

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Aconteceu nas terras desertas de Sonora, lá onde dizem que a terra e a lua se juntam, foi aí que iniciámos a descida em direcção ao olho de um vulcão extinto, numa paisagem nunca antes imaginada.

 

Dois de nós, dum grupo maior decidimos iniciar esta viagem não planeada, pedra a pedra, passo a passo, muito cuidadosamente por um caminho demasiadamente improvável, imaginado a cada passo. Demorámos cerca de hora e meia até alcançar o primeiro ponto de descanso, uma rocha maior que nos pareceu apropriada para esse propósito.

 

Nesse ponto decidimos comer e beber qualquer coisa do que traziamos nas mochilas, não muita coisa, apenas o suficiente para esta pequena aventura. Uahu, a adrenalina estava no máximo, pensámos nós, inocentes rapazes europeus.

 

Enquanto comiamos e bebiamos o silêncio era quase exclusivamente o que escutávamos, mas de repente um estranho ruído interrompeu esses milhões de pensamentos, e uma improvável senhora chamou-nos, usando o guiso da sua cauda, mas que enorme fogo no estômago sentimos ao virar a cara e ver a sua pele malhada e luzidia passenado-se por perto.

 

Nós, habituados aos nossos animais domésticos, nunca julgámos viver uma experiência assim, felizmente ela resolveu serpentear entre as rochas e assim como aparecera, rápidamente desapareceu e nós pudemos terminar o nosso lanchinho, mas agora com o coração batendo tão rápido quanto uma britadeira.

 

Depois deste descanso pleno de emoções resolvemos concentrar-nos novamente no nosso percurso, não com a mesma visão, mas sim com algum conhecimento adicional, escuta não apenas o silêncio, olha não apenas as rochas à tua frente.

 

A segunda parte da descida correu tão bem quanto a primeira, mas agora com o ritmo cardíaco menos acelerado, e assim esse objectivo nunca antes planeado fora alcançado, estavamos no olho do vulcão, plenos de emoções e apenas com algumas pequenas arranhadelas.

 

O motivo pelo qual não vos contaremos a viagem de volta reside no facto de sentirmos que um pouco de nós ainda se encontra nesse sublime pedaço do nosso planeta, o deserto de Sonora, lá onde a terra e a lua se juntam.

 

( Tradução do texto originalmente escrito em inglês para um concurso de viagens )

 

publicado por poetazarolho às 22:36 | comentar | ver comentários (5) | favorito
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Out 15
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Nobody

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Nobody knows me

Nobody sees me

Nobody likes me

Nobody wants me

Nobody teaches me

Nobody, nobody

Nobody, nobody

Who the hell is nobody ?

publicado por poetazarolho às 23:09 | comentar | ver comentários (3) | favorito